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Crítica | “A Jaula”

Com atuação potente de Chay Suede e Alexandre Nero, A Jaula é um ótimo suspense nacional. Causa agonia, apreensão e discute a índole e violência de maneira forte e agressiva. Um filme imprevisível que nos prende do começo ao fim.

Enquanto assistimos a mais um dia de programação sobre violência na televisão, Djalma decide roubar um carro estacionado na rua. O bandido entra, desmonta o painel, mas na hora de sair é surpreendido: as portas não abrem de jeito nenhum. Dentro do veículo blindado, ele se vê preso sem bateria no celular e a única pessoa com quem consegue se comunicar é o Doutor Henrique, o dono do carro e com sede de vingança.

A direção de João Wainer dá o tom claustrofóbico do filme com apenas um cenário: o interior do veículo. Assim como Djalma, começamos a ficar agoniados no carro e sentir as mesmas sensações do personagem: o sufocamento, calor, a falta de espaço e, principalmente, a impotência.

Foto: Star Distributions
Atores em cena

O ator Chay Suede é outro ponto alto do filme. Ele é o único em cena na maior parte do longa e consegue manter nossa atenção constantemente. Chay interpreta uma pessoa detestável, fácil de desumanizar em um primeiro momento. Mas ao definhar na situação desumana que se encontra, desperta empatia. O carro é desmontado assim como Djalma, e o criminoso se torna a vítima.

João Wainer consegue fazer essa transição muito bem, principalmente por criar os personagens em cima de caricaturas sociais. Djalma, um criminoso vindo de uma área humilde de São Paulo. Já o Dr. Henrique, um médico do bem, temente a Deus e cansado de ser vítima de crimes na grande cidade. Contudo, os dois são faces da mesma moeda e o diretor faz um ótimo trabalho ilustrando a relação do poder e a inversão de valores.

Alexandre Nero é um dos melhores atores da atualidade. Por boa parte do filme, entrega uma excelente performance apenas pela voz. Afinal, conseguimos enxergar sua expressão sem a vermos. Seu personagem e caracterização não são ao acaso, pois é um crítica contundente a Roger Abdelmassih, o ex-médico ginecologista acusado de violentar sexualmente suas pacientes.

Política e reflexão

A Jaula é um filme político do começo ao fim. Entre a apreensão e agonia pela situação de Djalma, somos convidados a refletir sobre os atos de violência e como o sentimento de superioridade e repulsa pelo outro é um combustível para utilizá-la. O longa é repleto de metáforas e críticas, porém, se excede quando tenta passar isso ao público.

Os diálogos e o último ato, principalmente, pecam ao serem muito expositivos. Ao mesmo tempo que o filme constrói essa crítica inteligente, atual e importante, nos entrega reflexões de forma “mastigada”, deixando pouco espaço para reflexão. A agonia é rapidamente substituída por uma exposição de pensamentos prontos, de frases ouvidas à exaustão de uma persona política pronta e irredutível. Ou seja, isso limita os personagens a crescerem e a audiência a pensar além das discussões já conhecidas.

Por fim, “A Jaula” é um filme que vai além da vingança, ele procura denunciar uma doença social que vivemos: a banalização e enaltecimento da violência. Excelente suspense nacional, este é um filme agonizante, que conta com uma direção criativa e atuações impecáveis. Apesar do roteiro expositivo, a proposta é inteligente e entrega uma história repleta de reviravoltas surpreendentes! 

Assista ao trailer:

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