“Flee – Nenhum Lugar Para Chamar de Lar”: história real sobre a vida de um refugiado
Um país pode ser o nosso lar e também pode ser tirado de nós do dia para a noite. Essa é a história de Amin Nawabi, jovem afegão que, no início dos anos 90, teve que fugir da guerra civil que se instalava em seu país. Flee é um documentário animado que dá voz e humanidade às pessoas que estão atrás do rótulo de “refugiados”. Uma obra pessoal, específica, e, ao mesmo tempo, universal e relacionável dentro do tema.
Amin Nawabi reencontra um amigo de longa data, da época do colégio. Após anos guardando grande parte das suas experiências para si, cede ao pedido do colega documentarista e conta sua jornada de refugiado. Algo que nunca falou sobre, nem para seu noivo.
Essa é uma história verídica, dirigida e co-escrita por Jonas Poher Rasmussen. Amin é pseudônimo de seu amigo afegão, que conheceu ainda no ensino médio em Copenhagen, na Dinamarca.
A fim de proteger a identidade do amigo, Rasmussen adota um estilo de documentário pouco convencional. Ele é, basicamente, contado por meio de animação. O estilo da narrativa mistura presente e passado, como uma conversa íntima entre amigos.
Vida interrompida
A infância livre e tranquila de Amin, com direito a empinar pipa com os irmãos na rua, é interrompida quando Mujahidin começa uma guerra civil no Afeganistão. Em pouco tempo, o pai de Amin desaparece, levado sem qualquer explicação. Além disso, os irmãos, em idade para combate, temem serem recrutados, e a mãe, desesperada pela segurança da família, decide fugir com eles.
Apenas com uma mala de mão, a família de Amin embarca em um avião com destino incerto. Assim, eles acabam na Rússia, uma das únicas nações que aceitaram receber refugiados.
Sem documentos, sem falar o idioma, e sem emprego, Amin e a família dependem do dinheiro que o irmão mais velho, que mora em outro país, manda mensalmente para eles. Apesar de recebê-los, a Rússia não fez nada para integrá-los à sociedade.
O desespero da mãe que não tem como sustentar seus filhos a leva a negociar com traficantes humanos, em busca de levá-los para um país melhor, onde poderão ter mais chances de uma vida digna.
Flee desperta empatia
Flee é uma história dilaceradora, em especial por, todos os dias, vermos tantas histórias como a de Amin na televisão – refugiados afegãos, de novo, ucranianos, e tantos outros povos. O filme nos convida a ir além do “imagina você ter que ir embora da sua casa e deixar sua vida para trás”. Rasmussen mostra como é, de fato, a vida dessas pessoas.
A compaixão que o filme nos evoca é desconcertante – encarar o desespero de famílias que se separam, que aceitam entrar em um barco lotado para imigrar ilegalmente, é de partir o coração.
Rasmussen entende que Amin não deseja ser uma história de superação, mas de sobrevivência. Uma família que se apoiava nas situações mais impossíveis em busca de qualquer sinal de otimismo para o futuro.
Abandonando a tendência hollywoodiana, Rasmussen não romantiza a jornada difícil de Amin, pelo contrário. O personagem logo de início deixa claro como reviver essas memórias é difícil para ele, contudo, é algo que precisa fazer para conseguir viver mais plenamente. Amin é traumatizado, mesmo depois de tantos anos estabelecido a vida na Dinamarca.
Vale a pena assistir!
O documentário fala sobre uma pessoa, mas com potencial de universalizar a compaixão que sentimos por ela. Flee toca em um dos lugares mais sensíveis para os humanos: o lar, o sentimento de não pertencer a lugar algum.
Por fim, com uma narrativa sensível e honesta, Rasmussen propõe reflexões e discussões importantes e atuais. Então, não basta receber refugiados se não dá a eles a oportunidade de recomeçar.
Amin é, acima de tudo, a humanização de milhões de pessoas que vemos diariamente na televisão, de pessoas e famílias que são expulsas de seu lar e obrigadas a encontrá-lo em outro lugar.
Indicado a três categorias do Oscar e vencedor do Festival de Cannes, Flee é uma animação excelente que sabe usar do formato, com suas cores e estilos, para contar uma história verídica e cheia.
Assista ao trailer: