Aves de Rapina
Depois de se tornar o maior sucesso do criticado Esquadrão Suicida, Arlequina ganhou o seu próprio filme, gerando expectativas altíssimas sobre a DC. Com um quinteto girl power, Aves de Rapina: Arlequina e sua Emancipação Fantabulosa tem bastantes derrapadas no roteiro, mas supera visualmente dando um show de cores, brilho, mulheres incríveis e muita porrada em machos escrotos.
Quando o vilão mais narcisista de Gotham, Roman Sionis e seu zeloso braço direito, Zsasz, têm como alvo uma jovem chamada Cassandra Cass, depois da menina roubar “acidentalmente” um valioso diamante, a cidade fica de cabeça para baixo procurando por ela. Os caminhos de Arlequina, Caçadora, Canário Negro e Renee Montoya se cruzam e elas não têm escolha a não ser se unir para derrotar Roman.
Narrado por Arlequina, com observações pessoais e debochadas à la Deadpool, na primeira parte do filme, vemos a personagem entre altos e baixos tentando superar o término do namoro com o Coringa. Com métodos convencionais, como chorar com pote de sorvete assistindo filme, e outros nem tanto, como atirar facas na imagem do ex e machucar quem aparecer em seu caminho, ela consegue dar um ponto final destruindo o local onde tudo começou, mas ao deixar rastros, ela dá início a um verdadeiro caos.
Tomado por flashbacks enquanto ela apresenta cada personagem que cruzará a sua vida, o enredo escorrega em tantas idas e vindas até Arlequina finalmente retomar de onde parou. Até os assassinos figurantes que a querem morta após saberem que ela não tem mais a proteção do Coringa em Gotham, tem uma breve apresentação – bem engraçada, porém exaustiva em certo momento.
O filme é um verdadeiro espetáculo visual. Uma aquarela de cores vibrantes enche os olhos a todo momento: Tiros de confetes, roupas coloridas e até uma Gotham com tons mais vibrantes do que a habitual tonalidade sombria, predominam. Outro destaque vai para o enquadramento de algumas cenas e o modo como elas a remetem aos quadrinhos. Quando ela perde o seu tão amado lanche de queijo, ovo e bacon, o modo como o lanche vai se desmontando, se esparramando pela rua e a sua reação mega exagerada aos prantos (não julgo, faria o mesmo), com foco total em seu rosto, parece que estamos vendo cenas vindas de HQ’s.
Margot Robbie entrega uma Arlequina muito engraçada. Super a vontade no papel, suas risadas, olhares cínicos para a câmera e diálogos carregados de ironias, a personagem conquista a empatia do público de imediato. As personagens Caçadora (Mary Elizabeth Winstead) e Canário Negro (Jurnee Smollett-Bell) são as minhas favoritas.
A história da Caçadora e a sua motivação por vingança é bem contada. Já a personagem de Jurnee tem um lado poderoso dentro dela muito forte. Ela trabalha para Sionis porque precisa, mas sabe o tempo todo qual o verdadeiro lado que quer estar. Seu grande poder é a sua voz – usada em um momento pontual da história, a personagem tem grande destaque em boa parte.
A jovem Cassandra Cass (Ella Jay Basco) tem alguns momentos bem engraçados. Ela no apartamento da Arlequina, conhecendo a hiena, Bruce (sim, em homenagem ao morcegão) e o castor, Bernie, é demais. Já a policial Renee (Rosie Perez), é a personagem que menos se destaca, um pouco sem graça. Em uma cena, a Canário diz se é impressão dela, ou parece que a Renee é aquelas policiais caricatas de filmes dos anos 80: sensata em tudo.
Com direção da roteirista e diretora, Cathy Yan o elenco só tem mulheres incríveis e talentosas, que entregam todas as suas habilidades em lutas para um filme repleto de muita ação – muitas vezes bem exagerado, como a cena da invasão na delegacia, lotada de brilho e purpurina. A formação do quinteto só é realizada no final do filme juntamente com a menção sobre as Aves de Rapina. O mais louvável é que não foi preciso usar e abusar de apelos sexuais em nenhuma personagem para ela ter destaque, pelo contrário: independentes e sem nenhum “herói” por trás – Arlequina prova que ela não é a sombra de Coringa e todas as outras também tem um lado sombrio e sobrevivem em Gotham como podem.
O ator Ewan McGregor interpreta muito bem um temível e frágil, Máscara Negra. O homem por trás do vilão é Roman Sinois, um homem rico que gosta de tirar o rosto de quem aparecer em seu caminho para fazer máscaras. O quinteto acaba tendo alguma pendência para resolver com ele. Sinois desconta sua raiva quando algo não dá certo humilhando mulheres e se divertindo ao assistir Victor Zsasz, matar lentamente suas vítimas. Victor é sádico e faz uma marca em seu corpo para cada uma das vítimas.
A trilha sonora é bem feminina e atual e parece um complemento do filme, principalmente nas cenas cheias de ação. Cantoras como Halsey, Lauren Jauregui e a própria Canário Negro (dona de um vozeirão!), fazem parte de algumas canções.
Aves de Rapina: Arlequina e sua Emancipação Fantabulosa consegue suavizar seus erros se destacando visualmente e entregando uma Arlequina difícil de esquecer. A DC deu ao público um filme repleto de ação e mostrando a importância de ser girls powers: mulheres unidas e independentes dominam o mundo.
Assista ao trailer: