Agente das Sombras – Novo filme com o ator Liam Neeson

A família do Liam Neeson não tem descanso! Em Agente das Sombras, o ator reprisa seu típico papel como agente disfuncional em busca de fazer o certo. No meio disso, sua filha e neta correm perigo. O filme é um lugar seguro para Neeson. Em piloto automático, promove boas cenas de ação com um tema atual, mas peca em não se aprofundar na trama.

Vivemos tempos de mudanças. As exigências por direitos iguais a todos e o fim das discriminações esbarram na forma de poder vigente e seus representantes. Quando um agente do FBI questiona suas ordens e decide expor o órgão americano, ele é perseguido pelo governo. Principalmente por Travis Block (Liam Neeson), que atua por debaixo dos planos para o coordenador federal. Apesar da natureza de seu trabalho, Travis acredita estar do lado certo. Contudo, o lado sombrio do FBI o confronta e ao ir atrás da verdade, arrisca a vida de todos que ama.

Agente das Sombras é um clássico filme de ação, com espionagem, traição, perseguição de carros e tiroteios. O ritmo do filme é ótimo e ter Liam Neeson como protagonista nos traz um conforto familiar. Aqui, ele é um avô imperfeito. Tem Transtorno Obsessivo Compulsivo, carreira questionável e uma vontade imensa de corrigir os erros do passado e ser presente na vida da neta.

A relação familiar do personagem é, acima de tudo, o coração do filme, e as nuances são bem exploradas e aprofundadas. Block é um figura intrigante, carismática e relacionável que nos conduz muito bem pela trama.

Falhas e acertos

Primeiramente, o enredo começa cheio de promessas. As primeiras são corajosas e expõe um governo arcaico, que rompe com a democracia a medida que não garante a igualdade de direitos e busca calar minorias. É possível, inclusive, traçar um paralelo com a história de Marielle Franco. No entanto, com o decorrer da história, deixam para trás esse viés político e a narrativa flutua pela superfície, tomando caminhos convenientes e anticlimáticos. As pautas importantes discutidas desaparecem, sendo utilizadas apenas como contexto para uma história genérica sobre agentes e corrupção.

Seguindo o mesmo destino, temos a personagem de Emmy Raver-Lampman (Umbrella Academy). A jornalista é engajada politicamente e, por isso, procurada pelo agente que deseja expor o lado obscuro do FBI. Entretanto, seu arco corrobora a narrativa que o filme busca criticar: toda sua história é decidida por personagens masculinos. Ou seja, a inteligência e coragem são apenas discursos que não se confirmam de forma satisfatória.

Com início muito promissor, o filme se perde no último ato e decide seguir um caminho que não condiz com filme de ação ou espionagem. Contudo, a conclusão é anticlimática: não aprofunda as intenções do FBI em calar minorias deixando, assim, o vilão sem uma motivação convincente. Não aprofunda a pauta das minorias e nem explora a natureza das missões secretas e diminui a sensação de perigo dos personagens.

Agente das Sombras é um bom filme?

A direção flui e consegue transmitir a sensação de urgência, administrando muito bem o ritmo do filme. As cenas de perseguição de carro são ótimas, assim como as escolhas de utilizar a expertise de Travis Block no combate, ao invés de colocá-lo no confronto direto com agentes mais jovens.

A única ressalva fica por conta da tentativa falha de criar um identidade. A edição utiliza um efeito específico nas cenas que o protagonista enfrenta pressão. Quase uma ilustração da ansiedade, parece uma premonição, mas não funciona e desconecta o expectador, que busca atribuir um significado ao efeito nada sutil, mas que nada agrega de fato.

Apesar de insinuar temas atuais e propor discussões bem-vindas, Agente das Sombras falha com o enredo e honra apenas o protagonista. Liam Neeson passa uma áurea de avô carinhoso e justifica sua zona de conforto. Este é um filme com sabor de tarde de domingo, uma ação nada violenta, empolgante, mas que poderia deixar de apenas insinuar seu viés político e abraçá-lo de forma contundente na trama.

Assista ao trailer: