Crítica – A Pior Pessoa do Mundo
Quando a vida realmente começa? Essa é uma pergunta frequente feita pela geração millennial. Eles parecem se preparar para a vida adulta, sem se dar conta de que já está nela há um tempo. “A Pior Pessoa do Mundo”, é um filme norueguês indicado a 2 categorias no Oscar 2022. Ele mostra uma protagonista à beira dos trinta anos, que ainda não sabe qual é o próprio caminho.
Julie (Renate Reinsve) deixa a faculdade de medicina após perceber que sua verdadeira paixão sempre foi a psicologia. Porém, no meio da nova graduação, a garota tem uma epifania e decide que sua vocação, na verdade, é a fotografia. Enquanto estuda sobre a nova área, aceita trabalhar como vendedora de uma livraria. O aniversário de 30 anos de Julie está chegando e a jovem não tem nada decidido em sua vida.
Tudo parece se estabilizar quando ela conhece Aksel (Anders Danielsen Lie), um quadrinista renomado. Os dois têm muita química juntos, senso de humor parecido e interesses semelhantes. No entanto, a diferença de idade se mostra um obstáculo para o relacionamento. Aksel, tem quase 40 anos e quer ter uma família. Contudo, Julie almeja fazer muitas coisas antes, mesmo não sabendo o que.
As dificuldades da geração Millennial
A Pior Pessoa do Mundo mistura drama, comédia e evidência as ironias e indecisões da vida. O filme é construído como um livro. Em certo ponto, a personagem desabafa: “às vezes, parece que estou assistindo a minha própria vida”. A estrutura permite com que a história foque em eventos marcantes da transição da juventude para a vida adulta de Julie.
Renate Reinsve, indicada a melhor atriz no BAFTA, está deslumbrante no papel. A atriz, quase uma sósia de Dakota Johnson, consegue transmitir a confusão da personagem com honestidade. Sentimos que a Julie poderia ser uma amiga que saímos de tempos em tempos para saber as novidades. Além disso, a personagem flutua pela tela e domina a narrativa. Conhecemos apenas o ponto de vista de Julie e navegamos pelas suas experiências, cheias de confusão, indecisão e muita vulnerabilidade.
O diretor norueguês Joachim Trier, consegue equilibrar perfeitamente o tom irônico e empático da obra. Não julga ou taxa algum estereótipo da geração millennial. Pelo contrário, traz uma abordagem nova e discute como o excesso de opções pode levar a dificuldade de escolha.
Drama existencialista
A câmera de Trier está sempre em movimento, ela não encontra momentos de estabilidade, assim como a vida da protagonista. A visão artística do diretor, acompanhado do roteiro autêntico, cria cenas divertidas e cheias de profundidade ao mesmo tempo. Em um certo momento, Julie tem um típico questionamento: “e se”. Vemos o tempo parar enquanto ela corre pela cidade para viver brevemente essa fantasia.
Outra cena impecável é quando a personagem ingere alucinógenos. A câmera trabalha de forma divertida no momento do delírio. As fantasias são engraçadas e cheias de referências freudianas ao mesmo tempo. Então, apesar dos diálogos serem mais superficiais e não verbalizarem de forma explícita muitas situações, a atuação, direção e fotografia suprem a profundidade emocional do filme. Criam um clima melancólico, com arrependimentos, frustrações e decepções típicas de quem entra de vez na “vida adulta”.
Contudo, apesar do foco na vida pessoal e amorosa de Julie, A Pior Pessoa do Mundo passa longe de ser uma comédia romântica. O filme é, acima de tudo, um drama existencialista repleto de questões de gênero. Ele aborda pautas atuais e usa os relacionamentos para ilustrar os momentos diferentes e as mudanças da protagonista. Julie, por exemplo, não sabe o que quer e enjoa daquilo que tem, sempre sob a incerteza de estar no caminho correto.
Vale a pena assistir?
Em suma, o filme nos lembra que se tornar adulto e ser a sua versão mais autêntica, é um constante processo de tentativas e erros. Julie é uma protagonista imperfeita e cheia de questões para resolver, mas que amadurece em seu próprio tempo. A Pior Pessoa do Mundo está nos cinemas, indicado nas categorias de Melhor Filme Estrangeiro e Melhor Roteiro Original, no Oscar 2022. O filme é um destaque positivo da temporada e bastante elogiado por críticos do mundo todo.
Assista ao trailer: