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Crítica | Belle

Existem histórias que nunca vamos cansar de ouvir. Belle, a nova animação japonesa, é um conto moderno de “A Bela e a Fera”, no qual trabalha a complexidade dos sentimentos e a facilidade de extravasá-los no ambiente online. Apesar da sua mensagem e discussões não serem tão originais, ainda encontra espaço para ressoar dentro de nós: a necessidade universal de sermos vistos e ouvidos.

 Suzu é uma jovem tímida de 17 anos que vive numa pequena vila japonesa. Desde que perdeu a mãe, Suzu é deprimida, isolada e invisível, contando apenas com a companhia da sua cínica e divertida amiga, Hiro. Quando a jovem faz uma conta no aplicativo U, sua vida se transforma.

U é um universo virtual no qual promete o recomeço que a vida real não permite. Ele cria avatares baseados nas suas principais qualidades e, anônimo, você pode se reinventar dentro daquele mundo. Em U, Sizu é Belle, uma cantora linda e graciosa que logo conquista milhares de seguidores.

No entanto, o sucesso e a sanidade de Suzu é colocada em cheque quando conhece o Dragão, um personagem agressivo que vive perseguido pelos auto-intitulados policiais da U. Apesar de intimidador, Belle enxerga algo no Dragão que a instiga a conhecê-lo melhor.

Enquanto, dentro do jogo, revivemos uma das nossas histórias preferidas da infância: A Bela e a Fera, com direito a rosas e sem a síndrome de estocolmo, – ufa – vemos uma jovem tímida enfrentar seus traumas por meio do seu perfil em uma aparente rede social. Belle possui várias camadas e cria uma trama complexa de sentimentos. Tem um olhar otimista para quem encontra no ambiente virtual uma forma de terapia, de verdadeira conexão com o outro.

Divulgação / Paris Filmes
Vida real x virtual

Na contra-mão das histórias que temos visto atualmente, Belle foca no lado positivo do mundo virtual e de como os problemas e receios da vida real podem ofuscar o nosso lado mais bonito. No entanto, o filme reforça que tal conexão só é possível quando ouvimos e enxergamos o outro de verdade. Assim, a narrativa também tem seus vilões e valentões que buscam no ambiente online se esconder atrás de um avatar e impor a sua visão de mundo nos outros.

 Além da mensagem delicada, a animação também é linda e encantadora. O ambiente virtual é rico em cores e fantasia. Enquanto, quando estamos na realidade, a animação busca emular o real, caprichando nos detalhes que, por vezes, parecem até uma fotografia. Contudo, por ser um anime, Belle tem um ritmo e uma complexidade diferente daquelas que estamos acostumados a consumir.

Com momentos delicados do dia-a-dia dos personagens, passagens mundanas e contemplativas, além de ser uma história cheia de camadas e trazer um conceito meio complexo da tecnologia – a passagem de tempo é confusa e poderia ser mais clara em relação ao tempo e a cronologia dos eventos.

Divulgação / Paris Filmes
Desfecho da história

É impossível não ficarmos impactados com o desfecho, principalmente quando a história da Bela e a Fera se encontra com a realidade dos personagens. Existem alguns furos na narrativa e acontecimentos muito convenientes. Porém, o nosso envolvimento com a trama é tamanho que relevamos isso em prol da mensagem maior que o filme quer nos passar.

Belle é uma animação voltada mais para o público adolescente em diante. Com músicas lindas e performances encantadoras, Belle é linda, mas nos envolvemos realmente com a adolescente traumatizada que é Suzu.

Por fim, o filme tem alívios cômicos pontuais que ajudam a trazer leveza para a obra. Apesar de não aprofundar e nem discutir uma premissa original, enche nosso coração de empatia e de mensagens positivas. A internet pode ser um lugar de recomeço e de cura, quando somos vulneráveis e escolhemos enxergar as pessoas por trás dos avatares.

Assista ao trailer:

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