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Crítica | O Beco do Pesadelo

O que você vê quando se olha no espelho? O Beco do Pesadelo, novo filme do cineasta mexicano, Guillermo del Toro, traz  as características clássicas do diretor, porém, sem um elemento importante: o sobrenatural. Inspirado no romance homônimo e segunda adaptação da obra, O Beco do Pesadelo é um suspense noir, como costumam ser as histórias de del Toro.

Stan (Bradley Cooper) é um homem misterioso. Após encontrar um circo itinerante no caminho e ter suas reservas quanto ao teor das atrações, ele aceita um subemprego em troca de um lugar para dormir. Mas, apesar de humilde, ele é ambicioso, e é assim que conhece Zeena (Toni Collette) e Pete (David Strathairn), um casal excêntrico de charlatões. Após aprender alguns truques e conhecer o pessoal do circo, Stan começa a sonhar com uma vida melhor. Ao aproveitar novas oportunidades, eventualmente, acaba indo a Nova York.

O filme se passa entre 1939 e 1941, e, como toda obra de del Toro, tem uma direção de arte impecável. Apesar de, em alguns momentos, carecerem da precisão histórica, os objetos, o tom sombrio típico de suas obras estão em todos lugares. Assim, cria uma imersão perfeita e um ar de “sonho” ou melhor, “pesadelo”.

Foto: Divulgação
Assinatura de del Toro

O Beco do Pesadelo não tem monstros ou elementos sobrenaturais, no entanto isso não tira a assinatura do cineasta. Por mais que esperamos alguma aparição, percebemos que ele consegue transformar qualquer história em um “conto de fadas”. O filme é uma narrativa cíclica que não esconde de nós qual o caminho pelo nos conduz.

Mas, mesmo assim, arrasa nosso coração com tamanha tragédia que compartilha. Esta é, na verdade, uma história atemporal e, os monstros que sentimos falta estão presentes, só que, desta vez, dentro dos personagens.

Stan vai ficando mais bonito conforme ganha dinheiro e sucesso. No entanto, podemos ver em detalhes que o personagem alimenta um monstro dentro de si, que começa a apresentar sinais. Bradley Cooper é natural ao papel. Se encaixa perfeitamente no arco de Stan, com a perda da aparente inocência e o desabrochar de uma arrogância ignorante. O ator já viveu outros personagens como esse, ambicioso e bonito. Contudo, a forma como transforma o terceiro ato eleva seu trabalho.

Elenco

O elenco conta com outros grandes nomes, mas é Cate Blachett e Rooney Mara que roubam a cena, vivendo Dra. Ritter e Molly, respectivamente. As duas têm personalidades opostas e marcam momentos diferentes na vida de Stan. Blanchett tem um magnetismo surreal, e fica claro que não existe papel que ela não possa fazer.

Williem Dafoe também é incrível como Clem. Uma atuação que vem de forma orgânica com um personagem mesquinho e maléfico, lembrando sua interpretação como Duende Verde, em Homem-Aranha.

Foto: Divulgação

A história de O Beco do Pesadelo é propositalmente previsível. Por muitos, pode ser percebida como macabra, sem dúvidas trágica, como são os contos de fadas originalmente. A adaptação de del Toro tem a sua identidade, seu uso autêntico da direção de arte e da fotografia para complementar a história e imergir o espectador.

Contudo, o único porém, é a duração. O meio do segundo arco é arrastado e, quando o terceiro ato se apresenta, a sensação é que o filme queria nos despertar novamente para a narrativa, depois de um período monótono.

Homenagem ao cinema noir

O Beco do Pesadelo é uma típica obra de Guillermo del Toro, depois do aclamado A Forma da Água, melhor filme do Oscar de 2018. Apesar da estreia tímida, o cineasta prova que consegue ser autêntico com ou sem monstros!

Del Toro encanta com seu protagonista anti-herói, homenageia o cinema noir, do qual é um grande fã. Faz brilhar um elenco de estrelas e conta como ninguém uma tragédia anunciada! Por fim, o filme mostra como nosso destino está refletido no espelho. Ou seja, quando sabemos como olhá-lo.

Assista ao trailer:

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