Filmes

Hebe – A Estrela do Brasil


Se me perguntarem qual é uma das minhas biografias cinematográficas favoritas, hoje respondo que Hebe – A Estrela do Brasil está no topo da lista. O filme é surpreendentemente inovador por não mostrar a Hebe desde criancinha ou a história da vida dela antes da fama e todo aquele enredo que se perde, como em vários longas. Acompanhamos a apresentadora já em ascensão nos anos 80, tentando combater a censura e o machismo, enquanto lida com um marido extremamente ciumento por trás das câmeras. 


Durante a transição da ditadura militar para a democracia, Hebe aceita correr o risco de perder tudo que conquistou na vida e dá um basta: quer o direito de ser ela mesma na frente das câmeras. Dona de sua voz e única autora de sua própria história, ela se torna a mais autêntica e mais querida celebridade da história da nossa TV, além de uma personagem extraordinária e com dramas comuns. 

Foto: divulgação

O filme já vale ser visto só pela atuação brilhante da atriz Andréa Beltrão. Ela não tem a aparência da Hebe e nenhuma característica física que lembre a apresentadora, mas a caracterização somada com a interpretação faz o telespectador sentir que está assistindo vídeos pessoais dela. Ela não carregou o sotaque de Taubaté, cidade onde Hebe nasceu e nem nos bordões – felizmente, “a gente volta já já” e “ai que gracinha” estão presentes,  mas o modo de falar – com graciosidade e ao mesmo tempo com firmeza, é inconfundível. 

É retratado a luta da apresentadora desde sua época na Band, onde já era perseguida pela censura, por falar o que pensava e defender os gays e travestis ao vivo. Quando foi para o SBT, correu o risco de ser presa por debater os políticos de frente,  levar o jornal do dia e esfregar nas câmeras o quanto aquilo era uma piada. Também foi mostrado superficialmente a sua amizade e o seu controverso apoio à candidatura de Paulo Maluff. 
Foto: Divulgação



















Uma das melhores cenas é quando ela entrevista Dercy Gonçalves (Stella Miranda) ao lado de Roberta Close, modelo transsexual. Dercy sempre desbocada, diz a Hebe que ela é a mais bonita do Brasil e para provar, coloca os peitos pra fora ao vivo. Outra cena marcante é quando o Carlucho (Ivo Muller), cabeleiro homossexual e amigo de Hebe, morre. Ela pede para um padre rezar um Pai Nosso para o amigo ao vivo e o padre se mantém em silêncio, como recusa. A indignação da Hebe com qualquer um que trate os homossexuais e trans diferente dos demais, mostra que ela sempre esteve à frente do tempo e foi uma mulher ousada, com opiniões formadas e sem medo de julgamentos. 

Foto: Divulgação


























Figuras ilustres que fizeram parte da vida da Hebe aparecem no filme, como suas amigas Nair Belo (Claudia Missura) e Lolita Rodrigues (Karine Teles) – quem não se lembra dos ataques de risadas das três?, Chacrinha (Otávio Augusto), Silvio Santos – este confesso que estava com medo de ver em cena, acho que é o mais difícil de fazer, pois quando alguém imita o Silvio é de um jeito escrachado. Nos poucos minutos que aparece, Daniel Ventura não forçou a voz, já naturalmente grossa e  interpretou um Silvio que sempre teve admiração pela amiga. Roberto Carlos é citado em vários momentos e quando finalmente apareceu em cena cantando Emoções no programa, foi bem bonito. A Andréa Beltrão disse ter se emocionado muito com a caracterização do colega e ator, Felipe Rocha.

Foto: Divulgação



É bem dividida as cenas da vida profissional e pessoal da atriz. Em casa, Hebe é uma pessoa que ama a família, mas muitas vezes está ausente. No filme, o filho Marcelo (Caio Horowicz) cresce com os empregados e até no Natal, ao invés de ficar na mesa com a família, vai abrir uma champanhe na cozinha. Seu sobrinho e braço direito, Claudio Pessutti (Danton Mello) também teve bastante importância na vida e carreira da tia, esteve sempre presente na casa da apresentadora e nos bastidores. Claudinho, carinhosamente chamado por Hebe, tem um grande acervo de objetos pessoais da atriz e emprestou muitas coisas para a produção do filme. 

Foto: Divulgação

Hebe sempre teve voz em casa e mesmo com os ataques de ciúmes de Lelio (Marco Ricca), seu marido ciumento, ela nunca baixou a cabeça e o enfrentou, questionando seus atos. Ele demonstra muito ciumes com o trabalho dela, principalmente com o cantor Roberto Carlos e o apresentador Chacrinha. Sempre que bebe, ele vira um homem violento e despeja muitas ofensas em cima da mulher. 

Foto: Divulgação


A fotografia e figurino são muito bem feitos. Estamos acostumados a ver a Hebe de frente, mas aqui vemos um ângulo por trás da câmera, por trás de seus cabelos platinados. A saída dela dos palcos e chegando sozinha em casa, são cenas que dão um contraste com a realidade que estávamos acostumados a ver. As cenas revezadas entre o palco e o camarim, onde ela discute coisas do programa e da vida pessoal com a produção, também são muito legais de ver, parece que fazemos parte dos bastidores da TV. Os figurinos são maravilhosos. Extravagantes, cheios de brilhos e de uma elegância ímpar. Com muitas jóias pelo corpo, todas as segundas víamos Hebe impecável no palco. No filme ela sempre faz questão de dizer atrás dos bastidores, que o público merece vê-la assim. 

Foto: Divulgação



Vemos em cena a Hebe dizendo que nunca trabalharia para a Globo, no filme produzido pela Globo Filmes e interpretado por atores da Globo. Isso é interessante. Dirigido por Mauricio Farias e com roteiro assinado por Carolina Koscho, Hebe – A Estrela do Brasil é um filme sobre uma mulher que lutou para ser ouvida, questionadora e formadora de opinião. Uma Hebe que se importou com a comunidade LGBT, com as questões sociais e política do Brasil e sempre amou o que fez: estar em cima dos palcos e transmitir toda a alegria que transbordava. Hebe é duas metades: um furacão e uma gracinha. 
Assista ao trailer: 

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