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Mentira perfeita

Foto: Bruna Castilho

Simplesmente travei. Demorei cinco dias para ler até o final, pois me apeguei tanto aos personagens, que só de imaginar que ficaria sem eles, meu coração apertava. Carina Rissi nos presenteou em sua história, uma essência diferente de todas as outras existentes em seus livros. 

 
Madura, com protagonistas que realmente enfrentam problemas comuns e reais do cotidiano, suas temáticas foram bem variadas. A união familiar, as dificuldades e preconceitos de quem têm deficiência física, o quão importante é a doação de órgãos e o sofrimento da família, nessa dura espera que pode levar anos, e o mais belo e principal: 
o amor verdadeiro não enxerga nenhuma deficiência ou privação. 
 
O livro é um Spin-off de Procura-se um marido, ou seja, nossos queridos e amados personagens Alícia, Max, Mari, e os funcionários da L&L continuam presentes, mas em segundo plano, pois os personagens principais dessa vez são Júlia Muniz e (o lindo e maravilhoso) Marcus Cassani.

 
A narração é feita pelos dois personagens principais, intercalando cada cena entre eles, o que achei fantástico, pois em uma mesma cena temos a perspectiva dos sentimentos de ambos. Fica a dica para as autoras, acertou em cheio, Carina!
 
O livro começa com Júlia, uma menina de coração puro e generoso, mas nada modesta quando o assunto se trata do seu QI (altíssimo). Ela faz questão de ser boa em tudo o que faz. Programadora na área de TI da empresa do falecido Narciso, mora com a sua tia Berenice.

“Algumas pessoas passam pela vida em um cor-de-rosa infinito, cheio de boas lembranças e histórias engraçadas que serão usadas na festas de fim de ano. Eu não era uma dessas pessoas.”
 
A tia Berê há dois anos está na fila de doação de coração e sua saúde já não anda boa há um bom tempo. Ela sempre teve o sonho de ver Júlia com alguém antes que partisse, como uma segurança de que sua amada sobrinha fique bem. Mas Júlia só dedica o seu tempo para a tia, a casa e o trabalho. 
 

Em um estado de desespero para não preocupar ainda mais sua tia e torcendo por um milagre, ela e seu amigo (hilário) Dênis acabam inventando uma pequena mentirinha: Júlia tem um namorado que está prestes a lhe pedir a mão. Só que milagres acontecem, tia Berê fica boa e assim que deixa o hospital gasta TODAS as suas economias de anos com uma festa dos sonhos para a sobrinha. 

“Era oficial. Tia Berê havia perdido o juízo de vez.”

Foto: Bruna Castilho

Como Júlia vai resolver o problema? Aí entra ele: Marcus Cassani. O mulherengo e desconfortavelmente lindo não aguenta mais morar com Max e Alicia, que vão se casar dentro de alguns meses e quer muito morar sozinho. Mas seus pais só vão deixá-lo com uma única condição: que ele tenha um acompanhante. 

 
Quando os dois se conhecem na fundação da L&L, é claro que a faísca rola no primeiro olhar. O jeito como Marcus a trata é desconcertante e engraçado. Quando ele oferece o acordo para Júlia ela sabe que não é o certo a se fazer. Mas o seu coração pensa bem diferente…
 
Ainda estou tentando encontrar um adjetivo para esse livro. Estou exagerando? Talvez. Mas é que ele não te deixa pensar em outra coisa, te faz ofegar com cada acontecimento. Chorei tanto quanto em “Como eu era antes de você“. Calma! Não tem mortes, fiquem tranquilas. A Carina não é tão má nesse ponto quanto a Jojo Moyes hahaha. 
 
O amor da Júlia e do Marcus nasce daqueles clichês que torcemos para ter na vida e dificilmente acontece: aquele lampejo, um olhar que marcará uma vida toda. Ambos são tão diferentes, mas se envolvem de um jeito tão intenso, tão lindo, tão emocionante, que acaba nos convencendo de que aquilo tudo é real e possível. Eu quase não falei sozinha com os dois. E como de costume, a Carina faz uma narrativa em que você enlouquece até o final, pois apesar de já sabermos do felizes para sempre, até chegar nele…Só eu sei o que passei. 
 
Quando teve o bate papo com a Carina aqui em São Paulo, na Livraria Saraiva, ela disse que escrever esse livro foi um desafio muito grande. E a cena da piscina, exclusivamente, demorou três dias para sair do papel, porque ela ficou muito mal. Agora, imagina a gente, reles mortais?!
 
Todas as cenas na piscina são únicas, mas essa cena especialmente citada, sem dúvidas foi a mais forte do livro. O sentimento do Marcus ali, na minha opinião, demonstrou todo o sofrimento agravado de um paraplégico. Não vou dar spoilers, mas a cena seguinte da piscina foi ainda pior. Quanto sua dor era descrita, mais o meu coração se despedaçava. 


“O plano perfeito não funcionou, e eu descobri que não sou tão bom mentiroso quanto imaginava. Eu estava completamente apaixonado e queria mais.”

Foto: Bruna Castilho

Outra cena para a história sem spoilers: o streap. Gente, eu dei muita risada. A Júlia é totalmente desengonçada, mas quando está perto do Marcus essa menina vira um vulcão. O modo como ele a encoraja, a faz sentir especial, o carinho que lhe dá, me faz suspirar mais que a tia Berê assistindo seus quinquagésimos filmes antigos. Toda vez que ele fala “minha Pin” então… (logo logo vocês entenderão), me lembro até de America falando para Maxon “Não me chame de minha querida“,  em A Seleção de Kiera Cass. 


“Eu queria que você entendesse a diferença entre levar a vida e viver a vida. E você nunca viveu tão intensamente quanto depois que se envolveu com o Marcus.”

Nesse livro ela trouxe variados problemas refletivos aos seus leitores. A falta de preparo nos lugares e nas próprias ruas cheias de árvores no meio, dificultam a passagem de um cadeirante. Os locais com vagas para deficientes, onde muitas vezes pensamos que não será usado, os atrapalham demais, pois uma vaga comum não é adaptável às suas necessidades. Outro ponto significativo é a espera de transfusão de órgãos e o que a família passa enquanto espera. Essa parte nunca é contada. E realmente é doloroso ver diariamente a aflição e ansiedade de alguém, no caso a Júlia, que vive preocupada 24h com medo que a sua tia passe mal ou faleça esperando um novo coração. 

Fiquem de olhos abertos e não confiem em ninguém do seu trabalho! Fiquei chocada com o rumo que a história levou. A Júlia estava pondo as ideias de Alicia em prática, e montando um site e-commerce com Ivan, seu colega chato do mesmo setor. Só que o site começa bugar a toda hora, e o que parece ser apenas um erro de HTML… Ai ai. Quando você pensa milhões de coisas e possibilidades, a Carina vai lá, te surpreende e te faz ver que não, você não é tão mirabolante quanto ela!

“Sabe quantas almas esperam por um coração, Júlia? Homens, mulheres, crianças. Talvez esse coração fosse mais útil no peito de alguém mais jovem. Talvez não. Quem sabe dizer? O que eu acredito é que tudo acontece por um propósito maior.”


Eu sou #team tia Berê, e vocês? 

Autógrafo da minha autora brasileira favorita


Os personagens são divertidíssimos (até a chata da dona Marlucy, que lembra aquela vizinha que sempre cuida da nossa vida), e alguns não ficarão só neste livro! Prestem bastante atenção em Nicolas Cassani, pois (comemorem) ele será o próximo personagem principal das histórias incríveis de Carina Rissi! 

Mentira perfeita se encaixa perfeitamente naquelas opiniões de autores ou repórteres atrás dos livros: te fará rir, chorar e se apaixonar. Tudo muito intensamente. Acho que ainda estou em estado de transe por ter terminado essa obra tão linda, mas muito feliz por compartilhar a minha alegria de ter conhecido personagens tão queridos, que ficarão para sempre na minha memória e no meu coração. 

 

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