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O Juízo

O cinema nacional vem apostando em novos gêneros em suas produções, dominadas pela comédia e drama. O Juízo é um suspense sobrenatural situado em uma fazenda no meio do nada, em Minas Gerais, com assombrações e questões psicológicas, envolvendo escravos assassinados ali e a dívida eterna que o lugar carrega tamanha injustiça. Ótima premissa para um roteiro. 


A história fala sobre Augusto, (Felipe Camargo) um homem que está em crise no casamento com Tereza (Carol Castro). Na esperança de colocar sua vida nos eixos, depois de perder o emprego e sofrer com o alcoolismo, decide se mudar com a mulher e o filho Marinho (Joaquim Torres Waddington) para uma fazenda herdada do avô. Mas a propriedade carrega uma história de traição e vingança que pode custar mais caro a Augusto e sua família. Os escravos e agora espíritos, Couraça (Criolo) e Ana (Kênia Bárbara), estão determinados a se vingar de toda a geração da família de Augusto, que os traíram no passado. 

Crédito Dan Behr – Divulgação: Paris Filmes

O roteiro, assinado pela atriz Fernanda Torres, conhecida por grandes trabalhos na comédia, tem o problema de entregar algumas informações importantes depois que alguns desfechos já ocorreram, como o motivo de Augusto ter ido para aquele casarão com a família. Até então, a história vai acontecendo e a todo momento nos perguntamos o que é que eles estão fazendo ali. Com a intenção de segurar o suspense, eles não têm o timing de soltar as explicações no momento certo e tudo fica meio confuso. A Tereza é a única preocupada com a casa que eles já estão morando, enquanto os outros dois estão indiferentes pelo fato de que nem tem luz no lugar e desde o começo cismam com o riacho próximo a casa, querendo impor de alguma forma esse clima sobrenatural. 

Crédito Dan Behr – Divulgação: Paris Filmes

A casa tem um clima intrigante e é herdeira de crimes envolvendo pessoas injustiçadas e gananciosas. Em meio as montanhas e névoas, com uma clínica psiquiatria próxima, todas as cenas dentro dela são escuras mesmo de dia, dando a impressão ao espectador que a qualquer momento aparecerá alguma assombração ou acontecerá alguma tragédia. Alguns enquadramentos específicos dos cenários já dão a dica de que algo importante acontecerá ali, não dando espaço para surpresas. 


Felipe Camargo entrega uma boa atuação, mas a construção do personagem é confusa. Não sabemos o que se passa com ele, quais são suas reais angustias ou medos, como é a relação com a família, tudo fica jogado no ar até ele enlouquecer com a influência do espírito Couraça e ameaçar a própria família. Se você se lembrou da estrutura do clássico O Iluminado, não foi o único. Pena que o resultado passou bem longe. O cantor Criolo até surpreende em cena por sua atuação, mas suas aparições em alguns momentos deixam a desejar, pois por tudo que o que seu personagem carrega, esperávamos muito mais do que simples aparições ou insinuações de uma alma perturbada. No geral, os personagens do filme parecem mais o elenco de uma novela das seis sobre espiritismo. 

Crédito Dan Behr – Divulgação: Paris Filmes

A atriz Carol Castro é uma das que mais se destaca, como esposa de um marido viciado, lutando pela união da família. Já o personagem de Joaquim Waddington, cumpre a atuação do filho adolescente ausente, que se encanta pela garota que na verdade é um espírito. Em um pequeno papel de Fernanda Montenegro, como uma senhora medium que faz sessões espíritas e Lima Duarte, irmão dela, os dois entregam as duas surpresas mais inesperadas do filme, dois ícones. 

Crédito Dan Behr – Divulgação: Paris Filmes

O Juízo é um filme com um tema muito rico a ser explorado, mas que se perde desde o início. A atuação dos ótimos atores é o que segura a história até o fim, apesar dos personagens também estarem perdidos nesse caos etéreo. É válido assistir para prestigiar novos gêneros nacionais que vem ganhando espaço nos cinemas. 

Assista ao trailer


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