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Um Amor Impossível

Considero um filme muito bom quando, mesmo fora do cinema, ele me faz pensar por horas nele. Se a diretora Catherine Corsini tinha como objetivo causar uma certa inquietude no espectador, ela conseguiu. Um Amor Impossível mostra em 125 minutos a vida de duas mulheres, mãe e filha, que anseiam pelo amor de um homem – pervertido e manipulador, no mínimo. Mais um filme francês para a minha lista de favoritos.


Baseado no best-seller de Christine Angot, no final dos anos 1950, na pequena cidade de Châteauroux, França, Rachel (Virginie Efira), uma modesta funcionária de um escritório, conhece Philippe (Niels Schneider), um jovem nascido de uma família burguesa. Após uma intensa paixão, eles têm uma filha, Chantal. Philippe se recusa a se casar fora de sua classe social e Rachel tem que criar a filha sozinha. Para Rachel, Chantal é sua grande felicidade e por isso seu principal objetivo de vida é conseguir convencer Philippe, a dar o sobrenome à filha. Essa batalha mudará a vida de todos.

Foto/Divulgação: A2 Filmes


O abuso psicológico sofrido por Rachel causa um abalo emocional até em quem assiste. 
Em meio as suas seduções, Philippe a fez acreditar que ela é a culpada por eles não se casarem e ele não assumir a filha, por serem de classes sociais distintas e por ela ser uma mulher “exigente” até na relação sexual. E talvez seja por isso que ela aceite todas as humilhações e o domínio de Philippe mesmo de longe, por estar em seu subconsciente que provavelmente ele era muito superior à ela. Esse relacionamento tóxico fez Rachel duvidar de sua capacidade, sendo que ela é uma mulher forte e muito inteligente. 

Foto/Divulgação: A2 Filmes



Narrado por Chantal, filha do casal, acompanhamos a vida dela desde que nasceu, até se tornar uma mulher adulta. A minha versão favorita da Chantal é a adolescente, interpretada pela atriz Estelle Lescure. Ela retratou muito bem o grande marco do filme. Obviamente não vou dizer, mas fiquem atentos às suas feições, o seu silêncio é ensurdecedor, é nítido que algo de muito grave está acontecendo, mesmo ela não dizendo nada. 

Apesar da narrativa ser feita pela filha, só vemos o lado de Rachel – ou seja, um lado da história, então o que ela pode sentir diante de uma situação, não é a mesma visão que a filha teve sobre isso. E só descobrimos o lado de ambas no final do filme. 

Foto/Divulgação


Rachel é uma pessoa à frente de seu tempo. Em um cenário onde a mulher era triplamente julgada e impedida de viver sua própria liberdade, ela nunca teve vergonha de criar sua filha sozinha, muito pelo contrário – ela vê em Chantal um fruto de um grande amor. Já Philippe, é a encarnação do homem mal caráter e pervertido em um só corpo. Ele conquista a mãe e a filha da mesma forma, através de palavras e de suas histórias de um rapaz viajado, que conhece o mundo e tem orgulho de se gabar sobre suas conquistas.

Chantal tem raiva por não ter uma família padrão e acaba se virando contra a mãe. A menina enaltece o pai a todo momento, se emociona quando ele aparece e reafirma para a mãe o quanto ela puxou as características do pai. As duas ao decorrer da trama tem uma relação muito difícil, e isso surpreende, pois desde o começo elas se mostraram muito unidas. Mais uma coisa que Philippe conseguiu corromper. 

Foto/Divulgação: A2 Filmes


É fundamental que vocês prestem atenção nas expressões de Rachel e da Chantal. Suas feições dizem que o mundo das duas estão desabando, que elas estão cheias de mágoas, culpa e dor, mas por medo, vergonha ou receio de falar, sofrem caladas a vida toda.

A atriz Virginie Efira coloca em cena muito bem todas as fases de sua personagem. Se antes, Rachel transluzia jovialidade, ao passar do tempo, as marcas do passado transparecem bem em seu rosto. A maquiagem ficou assustadoramente perfeita, seis horas de trabalho da equipe deixaram a atriz com os traços perfeitos de uma mulher com mais de 60 anos, mas suas tristes feições são ainda mais exorbitantes.

Um Amor Impossível é um filme sobre uma mãe e filha tentando encontrar um significado em meio ao caos e dor causados pelo mesmo homem. Duas vítimas que precisam romper as cicatrizes de uma história cheia de marcas. Dirigido, escrito e interpretado por grandes mulheres, o longa vale o ingresso! 

Assista ao trailer:

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