Uma Família Feliz | Crítica
Em um cenário atual onde a verdadeira realidade é frequentemente editada e repleta de filtros, o filme “Uma Família Feliz” escancara os problemas de uma família aparentemente perfeita.
Dirigido por José Eduardo Belmonte, o filme é uma adaptação do livro homônimo do brasileiro Raphael Montes, renomado autor também responsável pelo sucesso “Bom Dia, Verônica”.
Na história, Eva (Grazi Massafera) é casada com Vicente (Reynaldo Gianecchini), e após dar à luz ao seu terceiro filho, se depara com a angústia de uma depressão pós-parto em meio a uma vida supostamente perfeita.
Mas a rotina da casa muda quando acontecimentos estranhos surgem e suas filhas gêmeas aparecem machucadas. Eva é acusada e retaliada pela comunidade. Isolada e questionada por seu próprio marido, ela precisa provar sua inocência enquanto vivencia o puerpério.
A trama mantém o espectador envolvido do início ao fim, deixando em aberto a dúvida sobre quem está dizendo a verdade e quem está mentindo.
Será que Eva, exausta pelo puerpério, poderia ter tido um apagão e machucado suas próprias filhas? Ou será que está sendo culpada injustamente devido à sobrecarga de responsabilidades?
Os protagonistas conseguem transmitir de forma excepcional as complexidades emocionais de seus personagens. Gianecchini e Massafera entregam performances impressionantes neste suspense psicológico.
O puerpério e a relação abusiva
Após os três filhos aparecerem machucados, a relação entre o casal muda com crescente desconfiança e suspeita entre eles. Portanto, um passa a vigiar o outro.
Assim, mesmo enfrentando exaustão, Eva encontra refúgio na fabricação de bonecas “bebê reborn”, como fuga temporária das pressões da maternidade.
Em um certo momento, Vicente chama as crianças e diz: “Vamos, filhas. A mamãe quer brincar de boneca”, invalidando o trabalho da esposa. De fato, a partir dessas falas passivas-agressivas, alimentam a desconfiança do público sobre o que de fato está acontecendo naquela casa.
Cancelamento virtual
Após as fotos das crianças machucadas vazarem no grupo do condomínio, Eva é rapidamente alvo de um cancelamento virtual. Excluída do grupo e alvo de ataques dos moradores, ela confronta outra mãe em uma festa, insistindo em sua inocência.
No entanto, a discussão se transforma em briga, e novamente cancelam Eva nas redes sociais. Este tipo de linchamento virtual, onde os espectadores raramente têm acesso aos dois lados da história, é um reflexo comum dos tempos atuais nas redes sociais.
Uma Família (nada) Feliz
Com um desfecho surpreendente, o filme se destaca pelo roteiro envolvente, atuações cativantes e uma trilha sonora que ecoa o drama e a exaustão dos protagonistas, revelando que por trás da fachada de felicidade, nem tudo está bem o tempo todo.
Assista ao trailer: