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Vale Night – comédia com Linn da Quebrada aborda desigualdade de gênero

Vale Night é uma comédia brasileira autêntica que abraça nossa cultura ao mesmo tempo que rompe os estigmas do gênero nacional. Dirigido por Luis Pinheiro e com participação de Linn da Quebrada, é filme leve e divertido. Utiliza uma situação absurda e engraçada para retratar um problema sério no país: a gravidez na adolescência e as consequências nas vidas das jovens mães.

O filho de Daiana e Vini nasce no meio de um baile funk! A mãe, uma jovem de 18 anos, renuncia a vida e a juventude para cuidar do bebê. Enquanto o pai, atrapalhado, não tem a mesma dedicação. Após um incidente, Daiana cansa de Vini e decide que está na hora de ele assumir algumas responsabilidades. Então, deixa com ele o bebê e vai passar o final de semana na casa da avó. Contudo, na primeira noite a sós com o filho, Vini perde a criança.

O filme respeita a comunidade

Vale Night honra a vida comum das favelas brasileiras ao não se entregar ao estereótipo de violência e criminalidade, mas ilustra como um ambiente diverso, cultural, onde se criam famílias e laços comunitários. Além do enredo absurdo de um bebê perdido no pancadão, a comédia se ampara muito em Vini (Pedro Ottoni). Ele é um cara gente boa e carismático, que encanta e diminui a tensão de toda a situação. Suas piadas são espontâneas e inocentes, jamais pendem para um lado agressivo ou vulgar.

Foto: Divulgação

Os diálogos em Vale Night são naturais e humanizados, sempre com leveza e respeito. Daiana (Gabriela Dias) é uma jovem encantadora, mudada pela maternidade, contrastando bastante com Vini. Ela “perde” a inconsequência da juventude, vive preocupada com o filho, abdica de uma vida promissora para cuidar dele. Como a mesma diz, se torna uma “mãe paranoica” ou seja, uma mãe que tem que cuidar do filho praticamente sozinha.

Personagens e direção

Linn da Quebrada vive a DJ Pulga, amiga de Vini e Daiana. Além de ter um papel importante no desaparecimento do bebê, ela é um alívio cômico bem-vindo e que encaixa bem no contexto do longa. Pulga nos coloca na atmosfera dos bailes e ilustra toda a diversidade que existe nas favelas e festas brasileiras. Vale Night trabalha, acima de tudo, a representatividade de forma orgânica e natural. De modo que não vemos estereótipos, mas pessoas reais inseridas naquela realidade.

Foto: Divulgação

Luis Pinheiro tem uma direção incrível. A locação, direção de arte e a trilha sonora nos inserem completamente na atmosfera da comunidade. Assim como os personagens que imprimem a cultura e costumes locais sem nunca se tornarem estereótipos pejorativos. O diretor acerta no tom adolescente e não cai na armadilha da sexualização das mulheres e dos corpos negros.

Pelo contrário, utiliza o funk, as roupas e o cenário como uma manifestação cultural, sem jamais julgar o local e sua realidade. Ao final, o filme utiliza da sua história divertida para trazer uma pauta séria: a evasão escolar das jovens periféricas que engravidam na adolescência e como este impacto é muito maior nas meninas do que nos meninos.

Vale a pena assistir!

Por fim, Vale Night é uma grata surpresa: honra a cultura popular brasileira sem ceder ao lugar datado da comédia nacional. Vini e Daiana abrem um novo lugar para personagens negros no audiovisual, com uma história humana, divertida e super fácil de se relacionar. Certamente, o filme tem potencial de agradar o grande público e pode ser visto sem receios: não tem piadas ou cenas explicitas.

Vale Night homenageia a cultura da favela em todas as frentes: pelo dialeto, vestimenta, cenários e música, sem julgar aquela realidade. Contudo, denuncia como a marginalização desses lugares tem um grande impacto na vida e no futuro das jovens que ali habitam.

Assista ao trailer:

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