Vidro, a última parte da trilogia Corpo Fechado (2000) e Fragmentado (2017), está dividindo opiniões pelo desfecho, mas uma coisa é inegável: o diretor M. Night Shyamalan tem uma mente brilhante e conectou com maestria as três histórias.
Kevin Crumb (James McAvoy), e suas mais de vinte personalidades diferentes passa a ser perseguido por David Dunn (Bruce Willis), o vigilante. A perseguição entre o homem inquebrável e a Fera é influenciada por Elijah Price, o Mr. Glass (Samuel L. Jackson), que manipula a vida de ambos e guarda grandes segredos obscuros sobre os dois.
Cada detalhe é muito importante na história, então sem NENHUM SPOILER, contarei o que achei de mais incrível no filme. Quase 100% da história se passa dentro do hospital psiquiátrico da Filadélfia onde os três protagonistas estão em tratamento com a doutora Ellie Staple (Sarah Paulson).
A médica tem três dias para provar que nenhum deles possui poder físico ou mental e ela põe em dúvida a todo momento se esses superpoderes são na verdade a crença psicológica de cada um, somada aos desvios da mente para sobreviver aos fatos extremamente ruins que vivenciaram, ou se de fato eles têm mesmo dons sobrenaturais iguais nas histórias em quadrinhos.
Foto: Divulgação
O ator James McAvoy é um monstro em cena, literalmente. É impossível não se embasbacar com cada expressão, trejeitos e sotaques que ele incorpora. Kevin, Patrícia, Dennis, Hedwig e todas as outras personalidades roubam a cena no filme, principalmente quando a Fera aparece. Eu senti falta da “perturbação” que o personagem transmite até para os espectadores, como em Fragmentado, que nos deixa agonizados praticamente o filme inteiro. Em Vidro foi explorado mais o lado emocional de Kevin Wendell Crumb, ao invés da escuridão.
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Fiquei esperando o show de Samuel L. Jackson, já que o personagem leva o nome do último título e fecha o ciclo da trilogia. Sabe quando um maestro conduz às escuras e quando menos esperamos surge um grand finale?Foi assim que ele fez. Mr Glass é inteligente, perspicaz, sempre está à frente de tudo. Apesar do clímax demorar para acontecer, valerá a pena.
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O vigilante David Dunn (Bruce Willis) ficou como um coadjuvante no filme, não teve muito espaço, quase um herói secundário. O personagem é o único que pode combater a Fera com a sua força descomunal. A doutora Ellie o coloca em dúvida, seria ele apenas um ilusionista que presta mais atenção do que o normal em fatos que passariam despercebidos sob o olhar de outras pessoas?
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O filho de David, Joseph (Spencer Treat, o mesmo que interpretou em Corpo Fechado), a todo o momento ajudou e acreditou nos poderes do pai. Casey (Anya Taylor- Joy) ainda sente compaixão por Kevin Crumb e pelas histórias de vida que os dois tem em comum. A Sra. Price, mãe do Mr. Glass, zela pelo filho desde pequeno e tenta ajudar como pode. O que o trio tem em comum? Eles são o lado humanizado dos heróis e não desacreditam nos superpoderes e nas HQ´s, assim tentam através delas, saber qual será o final dessa história.
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As tonalidades usadas remetem muito as HQ’s dos personagens, o roxo, amarelo e verde. No Twitter o diretor explicou o motivo de escolher essas cores: o verde, psicologicamente falando, está associado a vida e David é o pretor dela. O amarelo é aplicado em rituais religiosos e ele vê a Fera como um evangelista. O roxo remete a realeza, alguém importante, como é o protagonista Sr. Glass. Os enquadramentos dando enfoque para as feições também nos fazem imergir nesse universo. É tudo muito bem pensado e direcionado.
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O final choca, foge do óbvio e com certeza irá desagradar muitos, como vem acontecendo nas críticas, seja pela demora do clímax ou pelo desfecho. Shyamalan conseguiu conectar as três histórias e na revelação final tudo fez sentido e a mensagem passada é muito mais uma reflexão psicológica de como as crenças e memórias influenciam em nossas vidas e como criamos uma personalidades a partir delas. Todos nós somos comuns e extraordinários.